23 de mar. de 2015

Literatura viral: a poesia brasileira nas redes sociais

Pois bem,

Eu encontrei este artigo e na mesma hora pensei: – Vou repostá-lo! Afinal de contas, tudo que está descrito nele é o que realmente acho... Portanto, confiram e tirem as suas próprias conclusões.

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“Hoje todo mundo é poeta”, costuma dizer um amigo meu quando mostro pra ele o último poema que, até então, escrevi. E eu sempre concordo e completo: hoje todo mundo é poeta; todo mundo é crítico; todo mundo é fotógrafo; todo mundo é jornalista; todo mundo é tudo o tempo todo em todo o mundo. E tudo isso aos olhos de todo mundo, ou quase.

Não é novidade – nem pra mim, nem pro meu amigo, nem pro Benjamin, nem pra ninguém – que nós sofremos um processo de democratização cultural surpreendentemente complexo e, ao mesmo tempo, superficial. Nesse mundo cibernético onde a gente vive e do qual muitos já somos dependentes, as informações se (des)organizam em combinações interessantíssimas: num minuto estou lendo os 10 Melhores Poemas de Carlos Drummond de Andrade e, no seguinte, vendo a foto – em novo ângulo – da minha prima e as amigas dela no banheiro da festa Tal, que custou Tanto, com o DJ Tal. E essa é a democracia tão curiosa da rede social. É nessa nuvem virtual que eu, tu, o teu vizinho, a tua mulher, a tua sogra, o teu chefe, o papa e até os diferentes deuses dos diferentes povos podem se manifestar. E o mais intrigante: todos têm o seu público. Inclusive o cara que diz que não quer ter público acaba tendo o público que fecha com o cara que diz que não quer ter público. É assim: quem sai na chuva dessa nuvem virtual, é para se molhar – e de verdade.

A bola da vez são os meios. As nossas redes de comunicação antes eram baseadas, na sua maioria, em pequenos grupos dependentes de mídias sacralizadas, como o livro, a televisão, o filme, etc. Agora temos alternativas muito mais rápidas e frutíferas. E a culpada disso tudo é a internet. Toda essa abertura ao material consolidado até esse momento, ao material que está vindo e ao que ainda está por vir, somada à liberdade de troca das informações entre os indivíduos, coloca o cara que fala e o cara que ouve, o cara que escreve e o cara que lê em um mesmo plano de atuação com muitos outros caras que também falam, ouvem, escrevem e leem. É quase uma comunicação pura. Quase. 



Mas é nesse ponto, no da escrita e da leitura em um novo âmbito de comunicação, que me detenho. Como se eu pudesse separar, sem dó, uma coisa da outra, eu começo pela escrita. Porque é ela, a escrita, um dos resultados mais recorrentes dessa geração enlouquecidamente produtora de conteúdo. E aí volto a falar: todos nós somos seres enlouquecidamente produtores de conteúdos. Eu nunca escrevi tanto, minha mãe nunca escreveu tanto, provavelmente a tua também nunca escreveu tanto e tão bonito quanto à última legenda daquela foto com passarinhos sobrevoando um Quixote que ela nunca conheceu, mas que é superbonita e vale a pena mostrar pra todas as amigas. E todos continuam escrevendo muito, e muitos deles, como diz meu amigo, são poetas. Alguns, poetas consolidados que querem se manter consolidados; outros, poetas que querem ser. Poema da página Um milhão Poema da página do facebook Um milhão.

O Twitter, o Facebook, o Tumblr, o Instagram e outras plataformas similares funcionam como uma grande praça pública para cada um desses poetas. Insatisfeitos com a ingratidão do mercado, eles abandonam o livro impresso e partem para a criação voltada diretamente pra essas redes sociais. Uns buscam a promoção da sua escrita por conta própria, como o Fabrício Carpinejar e seus tuites “amorosos”; alguns vestem a roupa de um personagem fictício, como o Pedro Gabriel e o Eu me chamo Antônio; e outros – a grande maioria – participam de diferentes coletivos poéticos, um tipo de febre literária do Facebook. Esse é o caso de páginas do tipo Um milhão, Ex-estranhos, 946-Poesia e Filosofão – todas essas com a tendência quase involuntária de divulgar umas as outras. De parceria em parceria, se tornam coletâneas e best-sellers de poetas clássicos e iniciantes nessa nova estrutura editorial.

Todos esses exemplos foram projetos que “funcionaram” nessa nova mídia literária. Bem ou mal, acabaram se tornando páginas lidas, curtidas e muito compartilhadas dentro e fora das redes sociais. É nessa hora que vemos (ou não) a resposta desse conteúdo todo: a leitura. Quanto a ela, feliz ou infelizmente, não há medida. É puramente baseada em números estatísticos quantitativos – o que não qualifica em nada uma determinada literatura. Mas isso não quer dizer que não renda frutos. Os textos de guardanapo do Eu me chamo Antônio, por exemplo, foram reunidos e publicados em livro impresso pela editora Intrínseca – coisa que tem sido muito comum ultimamente: o fato de grandes editoras procurarem nas mídias virtuais o material para a próxima publicação.

De qualquer forma, tá na cara que não faltam canais de circulação para a poesia nas redes sociais. Às vezes temos até mais canais que o próprio material. E aí, de novo, todo esse papo faz a gente lembrar o lado perverso da coisa. O nosso camarada Benjamin, quando se referia à banalização da obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, já alertava: ela perde a sua aura, o seu valor único do aqui e agora e passa a ser um produto fabricado por uma massa e consumido por outra. E a poesia, por fim, deixa de lado o seu valor ritual, espiritual pra virar, automaticamente, prática política. Agora, se isso é ruim? Eu sei lá. Só sei que

Fim.

Artigo via: Homoliteratus
Por: Lucas Reis Gonçalves

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