Notei seu semblante de decepção, seguido de uma fúria contida. Era como se eu estivesse arrancando suas asas, deixando-o sem rumo. Ele colocou sua bermuda, e com as mãos na cabeça, também começou a cuspir as palavras:
— Você está fazendo isso de novo! Quando vai aprender que o mundo não gira ao seu redor e que as pessoas, no geral, também têm suas dores? Você acha que eu não me recordo do meu pai morto ou de minha mãe, daquela forma assustadora? O que a faz pensar que sua vida foi pior que a minha?
Fiquei desconcertada ao escutar tamanha verdade, tendo um lapso de realidade, ficando cabisbaixa e escutando o que ele ainda tinha a dizer.
— Garota mimada e egoísta! Eu sempre sofri ao presenciar seu sofrimento. E vê-la vendendo o corpo foi como a morte pra mim. Sempre lhe desejei como mulher, enquanto você sempre me teve como um suporte. Arrancou minhas asas sem piedade e sequer as colocou no lugar — desabafou segurando o meu braço direito com força.
Eu notei seu mal-estar ao dizer tais verdades.
— Aprenda, nós só temos esta vida. Coloca sua cabeça no lugar e pensa, se não fosse por Hugo, aquele maldito do Juan ainda estaria solto, e tanto eu quanto você poderíamos estar mortos. Ele arriscou a vida por você e sonha com o seu perdão. Deixe de ser infantil e vá visitá-lo — cuspiu as palavras sem pudor algum.
Max notou meu semblante perturbado, e sem pestanejar, continuou:
— Eu até compreendo sua revolta em não querer vê-lo, pois acho que também me sentiria assim. Mas, ao menos, tente pensar de outra forma. Ele sequer deve estar lúcido naquela UTI. Atenda ao pedido de um homem que está prestes a partir desta vida. Essa será sua última chance — soltou o meu braço e seguiu para outro canto do quarto.
“Cria ó DEUS em mim um coração puro e renova em mim um espírito reto.” (Apóstolo Paulo — carta aos Filipenses 4.13 — Bíblia Sagrada)
E lembrando-me deste trecho bíblico que não saiu da minha memória, disse:
— Vamos! Não podemos perder mais tempo.
[Livro: Entre o Céu e o Inferno, Capítulo 24]
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