14 de abr. de 2017

Carta aos apoéticos — por Marcio Leite

Sinto muito por ti, amigo, se não entendes poesia. Sinto por não saberes que ninguém entende poesia. Poesia não se entende, sente-se. Poesia não se decifra, declama-se. Poesia, amigo, é semente que apenas brota na face interna da pele, é linguagem do coração, nenhuma razão lhe alcança. Ela não precisa, é completa em si mesma. Pena, amigo, que não reconheças a força concreta da abstração, que não percebas seus eflúvios mágicos, suas dores secretas, suas lágrimas e sorrisos (seriam diferentes?). Que tristeza, irmão, que tua inteligência não reverencie aquilo que não chegas a tocar. Que seja tão perversa a ponto de negar-te a beleza. Tu estás surdo diante da sinfonia do Universo. O Big Bang ainda te chamusca a alma e tu não vês. Pena mesmo, companheiro de jornada, que não notes que tua própria alma está manchada de poesia. Que o maior de todos os poetas tenha te trazido aqui, e não saibas agradecer. Mas não te preocupes, a poesia, por ti, há de esperar. 

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