Não, doutor, eu não escrevo como se fosse salvar a vida de alguém.
Creio até que o poeta seja um ser tremendamente egoísta.
Quero mais que as vidas se fodam, em ais, para inspirar-me um soneto, em guetos pretos, se explodam, para me darem uma trova, que se esbodeguem na cova, para me renderem um poema.
Não tenho um pingo de pena,
Um pingozinho sequer.
Escrevo para matar...
O medo que me detém,
O gozo que não convém.
E tudo que me vem até a garganta com esse gosto acre de hemorragias.
Minha poesia nasce com intenções de aborto.
De parir o feto podre que me infecta,
De cuspir goela a fora,
O que me mata.
Escrevo para matar...
E se salvo alguém, ou até a mim, perdoe.
Tudo que escrevo dói, por mais que roa.
Tudo que escrevo roí por mais que morra...
Doutor.
Há uma beleza na dor, seja lá como for.
O senhor não sente? Não vê?
Escrevo para enterrar meus ossos do amor.
E bater a pá na terra até que nada, possa de fato renascer.
Enfim...
eu sou assim.
[Via]: Anjos Urbanos
Nenhum comentário
Postar um comentário