Para quem ainda não sabe, esse é o terceiro livro que estou escrevendo (para conferir a sinopse não-oficial, clique AQUI). Porém, como estou passando por alguns probleminhas pessoais, além do desânimo ter batido com força, não dei continuidade ao enredo, estacionando a escrita no capítulo 21. De qualquer forma, deixarei aqui um trecho do capítulo 3, que leva como título: "Prazer, Sou Lúcifer". P.S: Texto sem revisão final. Capa provisória.
†††
— Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã preocupar-se-á consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal. — citei a ela o Evangelho de Mateus 6,34.
De início, ela fingiu não se importar com minha presença. Contudo, instantes depois, rebateu:
— Sendo dia ou noite, com você ao meu lado, o mal nunca bastará. — desafiou-me com palavras.
Não fiquei surpreso com sua resposta, pois era nítida sua aversão a mim. Gostei de presenciar sua coragem, numa esquina agitada qualquer, em plena madrugada, na maior cidade do Brasil.
— O que você quer de mim? — perguntou encarando-me.
Desta vez eu sabia que teria que ser mais maleável, caso quisesse ela por perto. Entretanto, não me contive com as palavras.
— Não acho uma boa ideia uma dama como você sozinha, na calada da noite, à mercê de diabos mundanos. — ansiei por sua atenção.
— Estar rodeada de diabos, mundanos ou não, parece que tornou-se minha sina. — declarou com tristeza no olhar.
Fiquei meio perturbado com sua nítida tristeza. Logo, perguntei:
— Não lhe agrada saber que está sob a proteção de Lúcifer? — desferi do meu sarcasmo.
Ela deu um passo para trás, e fitando-me com receio, bradou:
— Pelo que aprendi, Lúcifer nunca será a melhor companhia. No entanto, acho que preferia a proteção dele do que você ao meu lado.
Sorri de canto. Na verdade, senti vontade de mostrar-lhe a minha verdadeira face, a mesma face que outrora perpetuava de forma assustadora perturbando a vida de muitos.
— Cuidado com o que desejas... Às vezes o diabo pode atender ao seu chamado. — por mais uma vez usei do meu sarcasmo.
— Bom, se ele atender ao meu chamado, agradecerei, pois terei a oportunidade de pedir para que ele o leve para bem longe de mim. — ela rebateu sem hesitar.
Dei uma singela risada com suas últimas palavras. Ela sequer sabia o quão próxima do diabo estava. Eu queria tombar o seu castelo em rudes golpes; eu ansiava em fazer dela mais um de meus fiéis escravos.
— E se eu lhe disser que sou Lúcifer, o seu súdito. — encarei-a dentro dos olhos.
Ela gargalhou, para logo em seguida dizer:
— Seria muito estranho saber que Lúcifer fica pelas ruas citando provérbios bíblicos. Aliás, sei que você se chama Lucius, e pela proximidade do nome e também pela maldade que cometeu com aquela outra garçonete, acredito que você tenha algum parentesco com ele. — disse, com os olhos arregalados.
Era entorpecedor ter uma pobre alma mortal desafiando-me sem restrições. Em outra situação, ou seja, sem interesse algum, já teria agido de forma diferente, levando-a para o meu reino. Contudo, algo nela me enternecia, deixando-me de forma nada favorável, livrando-a de todo mal.
— Parece que estou defronte a uma pedra preciosa, Santa e conhecedora da palavra. Será que não és mesmo uma virgem, ó doce Ágata? — incitei-a a continuar o nosso diálogo.
Às vezes eu me deparava com humanos de pouca fé em minha existência. Era neste momento que eu os despertava de tamanho disparate. Aqueles envoltos num consenso blasfêmico, me deixava em perturbante delírio; uma convicção verdadeira e definida, que se enraizava com grande repulsa e também como manifesto de ódio. No entanto, ter aquela que me despertava total interesse tendo tão pouca fé em mim, era como um bálsamo.
— Sou católica praticante desde sempre! Acredito em Deus com todo meu coração, e apesar de minhas falhas, tento andar sempre ao seu lado. Sobre minha vida pessoal ou sexual, não tenho nada a lhe dizer, pois isto não te interessa. — bradou com odiosidade.
Eu estava entorpecido com sua bravura, e por um curto intervalo de tempo, tive que me deter. Em verdade, eu queria levar nosso diálogo para outra direção... Uma direção que ela tomaria com espanto.
— Aí que você se engana, minha cara! Além do mais, acho um desperdício tanto apreço pelo Ser Divino Maior, pois como bem acabou de dizer, és propícia a falhas. Portanto, acho que o Inferno já pode preparar o seu trono, quem sabe não reinarás por lá? Satanás é um bom jogador e pode trazer-lhe para o outro lado.
Indignada e ao mesmo tempo assustada, deu dois passos para trás, afastando-se. Tentei uma nova aproximação, porém, ela se desviou.
— Você é um louco! — disse em alto e bom som.
— Louco não, apenas realista com os fatos! Prazer, sou Lúcifer. — aproximei-me e segurei sua mão esquerda, erguendo-a e beijando-a com querer — Ou Lucius se preferir. A propósito, para os mais chegados sou Luc. — apresentei-me dizendo a verdade.
E por um átimo de segundo, pensei que ela seria tão recíproca quanto eu, mostrando toda sua verdade, deixando-me numa estrada com destino certo, onde anjos e demônios buscam o seu lugar ao sol, pois por mais que o mal perdure em escuridão, existe aquela outra metade que anseia por uma fresta de luz.
[Redenção, Capítulo 3]
Nenhum comentário
Postar um comentário