28 de dez. de 2018

[Falando em]: Dissoluto, Para Sempre #Livro 2 — de Ana Sóh e Elissande Tenebrarh

Já faz um tempinho que aguardo por essa sequência, e as autoras resolveram presentear gratuitamente (em formato digital, de Natal) os leitores com os livros 2 e 3 da série The Underwood's. Assim que o baixei iniciei a leitura. Antes de qualquer coisa, aviso que não há como falar sobre a obra sem soltar spoilers, pois trata-se de eventos consequentes ao livro anterior (para conferir a resenha, clique AQUI). Agora confira a sinopse, teaser trailer e o que eu achei de "Dissoluto, Para Sempre", o segundo livro da série, obra das autoras Ana Sóh e Elissande Tenebrarh, uma publicação independente.


Sinopse: Savi está destruído. Após a tragédia que aconteceu no The Underwood's, sua doce garota também foi marcada... Mais uma vez. Mas dessa vez, parece ser algo irreversível, pois Millicent não se lembra de nada que viveu com ele. Sua memória se foi. Depois de tanta dor, sofrimento e libertação, será possível que Savi Underwood conseguirá recomeçar mais uma vez? Será que ele lutará pela mulher que trouxe a sua redenção? Será que Millicent estará pronta para saber de tudo que passaram juntos? O futuro é incerto. Mas o amor que Savi sente, será o combustível para ele lutar por Millie até o fim. 


"Porque amar é tão importante quanto o poder da lembrança..." 

Uma aprazível sequência!

Após o atentado que Millicent (ou Millie) sofrera, ela acaba por perder a memória, parte esta em que Savi, seu namorado, está incluso na lista de esquecimentos. 

— Então deixe que eu te ajude a recordar tudo, Millicent. De todos os momentos que vivemos juntos — peço, aproximando-me dela, que dá um passo para trás, assustada. — Tudo que peço é uma chance para que tudo volte a ser como antes. (Livro: Dissoluto - Para Sempre, Cap.2)
(clique na imagem para maior resolução)

Impedida pelo pai de ver Savi, Millie continua à mercê de sua falta de memória. Savi, por sua vez, descobre o motivo pelo qual o pai de sua garota o reprova. Ainda assim, ambos se envolvem, a fim de trazer à tona as lembranças e, claro, embalados num sentimento vigente.
— Não me lembro de nada — diz, nervosa. — Talvez ainda seja cedo para isso, mas... o que acabei de viver jamais será esquecido, Savi. (Livro: Dissoluto - Para Sempre, Cap.13)
Em doses homeopáticas, Millie vai tendo alguns flashes do passado, dentre lembranças boas e ruins. 
Somos nós dois, aqui mesmo, juntos. Estou com minha mão em seu peito, sobre a tatuagem, enquanto ele me conta sobre o abrigo. É só isso, depois tudo some. Mas lembrei. Eu me lembrei de cada palavra, de sua pele quente sobre a minha mão, dos meus lábios em sua tatuagem. (Livro: Dissoluto - Para Sempre, Cap.14)
Agora cesso os comentários para não soltar mais spoilers.

Embalado no gancho final do primeiro livro da série, somos conduzidos por uma nova sucessão de acontecimentos, onde o passado é um borrão, e a esperança e o amor são os sinalizadores da trama.

DISSOLUTO, PARA SEMPRE apresenta as consequências de uma tragédia e, claro, como vencer as barreiras impostas por tal infortúnio. A continuação nos mostra a luta de Millie para/com suas lembranças, além da esperança de Savi para ter de volta aquela que tanto ama. Aos poucos as memórias e o amor surgem, porém, junto com eles, vem também parte de um passado triste e preocupante que a protagonista viveu. Bom, eu curti essa sequência, mas confesso que senti falta de um enredo melhor desenvolvido (assim como no primeiro livro), e não tão corriqueiro, afinal, tinha elementos de sobra para um melhor desenvolvimento, especialmente sobre o passado de Millie que retorna para assombrá-la, mas fica meio que escondidinho. O final é com algumas reviravoltas e fofo. Por fim, é uma boa pedida conferir essa sequência. 

O livro é narrado em primeira pessoa, com narrativa e diálogos de fácil compreensão; a diagramação está no padrão digital; e a capa é belíssima, seguindo o mesmo padrão da primeira, porém, agora, estampando Millicent. 


Livro: DISSOLUTO, PARA SEMPRE #LIVRO 2
Autoras: Ana Sóh e Elissande Tenebrarh
Gênero: Drama/Romance/New Adult
Publicação  Independente
Ano: 2017
Páginas: 145

24 de dez. de 2018

Boas festas!

[TOP 10]: As 10 melhores leituras de 2018 — por Simone Pesci

Chegou aquele momento que fico perdida para escolher as dez leituras que me conquistaram. Esse ano teve de tudo um pouco, é claro que o drama/romance impera, afinal, é o gênero que mais amo. 💘💘💘 Dentre parcerias, não-parcerias, presentes, e-books baixados gratuitamente, fica a minha GRATIDÃO! Para quem não sabe, a leitura é um dos remédios que afaga a minha alma, dentre os distúrbios que enfrento, em meio a ansiolíticos. As obras não estão em ordem cronológica, pois todas, a meu ver, foram maravilhosas. Agora convido a todos para conferir o meu TOP 10 DE 2018. Vem junto! o/

(clique na imagem para maior resolução)

[clique no título para conferir a resenha]:

21 de dez. de 2018

"Eu gosto de pessoas que, sem pedir permissão, tocam minha alma"

As pessoas que eu admiro mal cabem nos dedos de uma mão. São elas a quem eu observo e escuto em silêncio. As pessoas que eu admiro, ainda que não se deem conta, fazem de mim uma pessoa melhor, tornam o meu mundo um lugar melhor. As pessoas que eu admiro são apenas humanas, cometem falhas como todo mundo, mas possuem um dom muito especial, que é o de saber tocar a minha alma. 

Existem milhares dessas pessoas no mundo, talvez você seja uma delas, talvez seja você essa referência a outros, não por ser perfeito, mas por saber oferecer o refúgio, a proteção, a compreensão que o outro procura. Esse tipo de pessoa sabe o valor de cada ação, são especialistas em agasalhar almas e sabem perfeitamente quando é a vez das palavras e o quanto o silêncio pode ser curador. 

Quem tem em seu círculo de convivência um ser desses, sabe muito bem o que é receber afago na alma, sabe o que é ter em alguém o abrigo para as horas em que o mundo se torna mais hostil do que já é. Sabe aqueles momentos em que você deseja que um buraco se abra para que você se enfie lá e se esconda do mundo? Nunca irá se abrir esse buraco, mas quem tem um especialista em almas como amigo, sabe onde buscar essa sensação de amparo. 

Não importa se essa criatura mora ao lado, more conosco ou até mesmo viva em um lugar muito distante. Acredite, eles sempre conseguem uma forma de invadir você, de ultrapassar qualquer barreira para chegar até a sua alma ferida e regatá- la. Nelas temos total confiança e, ainda que nos trancamos, ainda que criemos uma armadura onde escondemos nossos sentimentos, seja de tristeza ou de felicidade, esse invasor do bem chegará até nosso mais profundo interior para nos confortar se estivermos tristes ou para festejar se estivermos felizes. 

Quando pedimos um afago e recebemos é muito bom, mas não há como negar que receber-lo sem pedir, que ser surpreendido docemente por mãos mágicas a acariciar nossa alma, é algo extraordinário. Esse gesto que nos faz sentir menos sozinhos, nos faz perceber que temos valor sim para alguém e reaviva nossas esperanças na humanidade. 

Mas é bom lembrar que essas pessoas também possuem almas, e, se doam tanto carinho, tanta atenção, é porque também gostam de receber-los. Seja você hoje o invasor, estique seu braço e toque a alma daquele que nunca se negou a acariciar a sua. Faça um afago, um elogio sincero, um agrado para demonstrar sua gratidão. 


[Texto via]: Pensar Contemporâneo

16 de dez. de 2018

[Falando em]: Muito Além dos Teus Olhos — de Janaina Soares

Hoje trago o meu parecer de um enredo lindo, uma trama recheada de coração. Eu baixei esse e-book gratuitamente, e afirmo que me deparei com uma bela surpresa. Agora convido a todos para conferir a sinopse e o que eu achei de "Muito Além dos Teus Olhos", obra da autora Janaina Soares, uma publicação independente. 


Sinopse: Bento e Olívia são apaixonados desde a adolescência, mas impedidos de ficarem juntos. Em uma tentativa de fuga frustrada, são pegos e separados por um oceano quando ela é forçada a se mudar para Milão. Treze anos depois, Olívia é uma mulher adulta e precisa retornar a sua cidade natal para lidar com mais uma mudança inesperada em sua vida. Ela reencontra sua família, inclusive Bento, um homem que não se parece mais com o adolescente rebelde que ela deixou para trás, por carregar cicatrizes profundas. O que são treze anos e um oceano para quem se ama de verdade? 


"Porque amar vai muito além do olhar..." 

Uma linda surpresa! 💘💘💘

Na infância, os primos Olívia e Bento se casam de brincadeirinha. Na adolescência, envoltos por um sentimento vigente, tentam uma fuga, que é interrompida por Marisa, mãe de Olívia. Aos quinze anos Olívia é enviada para Milão, para ficar aos cuidados de seu avô e, claro, longe de Bento. 
Não ligo a mínima para o fato de sermos primos nem para os olhares reprovadores das pessoas da cidade, que encaram nossa relação como um incesto, um ultraje à ética e caráter da família Perrone. Tudo o que quero é ele. Ele é o garoto mais incrível que já conheci, o mais divertido, alegre, apaixonado pela vida, cheio de confiança, e lindo de morrer. Que menina não iria se apaixonar? (Livro: Muito Além dos Teus Olhos, Cap.1)
(clique na imagem para maior resolução

O que era pra ser uma viagem de um ano torna-se uma estadia de anos; Olívia retorna após treze anos, agora como uma estilista famosa e noiva de Francesco. O motivo do retorno é a morte de sua amada avó, Teresa.
Treze anos e não estava preparada para isso. Em que momento da sua vida alguém te prepara para reencontrar a única pessoa que foi capaz de fazer seu coração saltitar dentro do peito? Onde a gente aprende a controlar as emoções quando a vontade é esquecer os bons modos e deixar que tudo venha à tona, de novo? (Livro: Muito Além dos Teus Olhos, Cap.3)
Bento, que sofria de glaucoma, hoje encontra-se cego; Olívia, que antes era corajosa, tornara-se fraca, vivendo à mercê de crises de pânico e depressão. A avó, Teresa, deixa em testamento para os netos a sua casa. E assim inicia-se um emaranhado de conflitos internos e querer. 
— Eu sempre fui seu, pequena. Quando nos casamos de mentirinha — ele relembra, lambendo minha boca com malícia. — Quando tentamos fugir. — Mais uma lambida, e meu corpo estremece com suas carícias. — E quando jurei te esperar, há treze anos. — Bento encosta a testa na minha, suspirando pesado. — Eu te esperei, pequena. Aqui estou, pronto para você — ele encerra, e sorrio também, colando meus lábios aos dele. (Livro: Muito Além dos Teus Olhos, Cap.14) 
Agora cesso os comentários para não soltar mais spoilers.

MUITO ALÉM DOS TEUS OLHOS é uma linda história de amor, daquelas que enternece o coração. Olívia e Bento é muito mais que dois primos apaixonados, eles simbolizam o que de mais verdadeiro possa existir. Eu, particularmente, me apaixonei pelo casal, cada qual com seus sabores e dissabores: no caso de Olívia, compreendi perfeitamente o seu impasse, pois sofro com os mesmos transtornos. A propósito, a escritora disse ter passado pelo mesmo, talvez por isso tenha se expressado tão bem. Da mesma forma, fomos conduzidos às limitações de Bento. Contudo, o que predomina é o amor, que nunca se apagara e que com o tempo e as dificuldades mostra-se mais forte. Os personagens secundários são de importância, dando um tempero especial na trama. O final revela alguns segredos, além de superações e ser fofo. O enredo, por si, traz uma bela mensagem. A escrita da autora é deliciosa, singela e entorpecente. Por fim, para quem curte um lindo drama/romance, eis essa excelente pedida. Eu me tornei fã e digo mais: "Leio até mesmo a lista de compras da Janaina!" o/

A trama é narrada em primeira pessoa, com narrativa e diálogos de fácil compreensão; a diagramação está perfeita, no formato digital; e a capa é belíssima, condizendo com o enredo, estampando o casal protagonista e a casa herdada por eles. 


Livro: MUITO ALÉM DOS TEUS OLHOS
Autora: Janaina Soares
Gênero: Drama/Romance
Publicação  Independente
Ano: 2018
Páginas: 356

10 de dez. de 2018

[Falando em]: Que sorte a minha — de Gisele Souza

Hoje apresento-lhes uma divertida surpresa. Trata-se de um enredo baseado no conto "A sorte no azar" (NÃO, eu não li o conto!), da autora Gisele Souza. Eu baixei esse e-book gratuitamente e afirmo que já no prólogo ele me ganhou. Agora convido a todos para conferir a sinopse e o que eu achei de "Que sorte a minha", uma publicação independente. 


Sinopse: Ter sorte na vida é algo bem relativo, para cada pessoa funciona de uma forma diferente. Você pode ser considerado alguém sortudo se tiver muito dinheiro, uma carreira brilhante e sair esbanjando mundo afora. Ou você pode ter sorte no amor; formar uma família feliz e perfeita... E pode acreditar que por simplesmente estar vivo já é alguém de sorte. No geral, é aquilo, cada pessoa é diferente e vê o mundo de uma maneira singular. Só que para Leo e Jully não é bem assim que funciona não. Se existe mesmo essa coisa de azar, esses dois pegaram todo o estoque ao nascer! E imagina qual seria o resultado de dois azarados se apaixonarem? Qual a chance de isso correr bem? Duas pessoas com sorte no azar vão tentar lutar contra as leis da física e até as conspirações do universo para viver um romance que tem tudo para dar errado, mas que a gente vai torcer para que dê certo. Embarque nessa história e se divirta com trapalhadas, que tenho certeza, irá se identificar. 


"Porque, à vezes, o sinônimo de azar é sorte..." 

Uma grata surpresa!

Leandro (ou Leo) tem uma loja de autopeças e namora alguns meses com Antonella. Em uma noite, num jantar romântico (em um restaurante), prestes a pedir a namorada em casamento, leva um baita fora. 
Mas, vamos lá, deixa eu me apresentar antes de começar as lamentações; meu nome é Leandro, mas pode me chamar de Leo. E eu vim contar a minha história; sou um cara azarado que teve um momento de sorte na vida. (Livro: Que sorte a minha, de Gisele Souza) 
(clique na imagem para maior resolução)

Jullyana (ou Jully) é uma jovem taxista, solteira e a fim de dar um up em sua vida. Após marcar um encontro pelo Tinder, decepciona-se, e começa a fazer um detox de relacionamentos.
Meu nome é Jullyana, mas todo mundo me chama de Jully. Sou taxista, solteira, vinte e sete anos e sou do signo de Áries. Nunca tive muita sorte no âmbito amoroso, na verdade, não sou uma pessoa muito sortuda em tudo que se resume a vida. Mas claro que tive meus momentos raros. (Livro: Que sorte a minha, de Gisele Souza) 
Depois de uma noite de porre pelo fora que recebeu, bêbado, Leo é colocado em um táxi para voltar para casa. Em meio as intempéries, Jully é a taxista que o atende.  
— Acho que somos mais parecidos do que pensa. Eu sei onde você mora, quem sabe não apareço por lá para chorarmos as pitangas juntos? — Piscou um olho e sorriu, arrancando com o carro. (Livro: Que sorte a minha, de Gisele Souza) 
Agora cesso os comentários para não soltar mais spoilers.

Sabe aquela história de que os dispostos se distraem?! Então... Em meio ao caos que é a vida de Leo e Jully, azarados ao extremo, quando ambos tinham tudo para dar errado, surge uma fagulha de sorte, unindo-os. É desta forma que a  história é apresentada.

QUE SORTE A MINHA é nada menos que uma trapalhada de amor, um romance improvável que, por fim, torna-se provável. Com uma escrita simples e entorpecente somos introduzidos ao contexto, divertindo-se com os pensamentos e a maré de azar dos protagonistas, além de torcer muito por eles.  Os personagens secundários aparecem pouco, porém têm suas pitadas de humor sarcástico que dá um tempero especial. O final é fofo... EU ADOREI! Eu li o livro num tapa, pois é uma breve trama. Por fim, para quem é fã de uma leitura leve e divertida, eis essa ótima dica.

A história é narrada em primeira pessoa, com narrativa e diálogos de fácil compreensão; a diagramação está excelente, no formato digital; e a capa é muito fofa, estampando Leo e Jully.


Livro: QUE SORTE A MINHA
Autora: Gisele Souza
Gênero: Comédia-Romântica
Publicação  Independente
Ano: 2018
Páginas: 146

5 de dez. de 2018

Felicidade Clandestina — por Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade". 

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. 

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. 

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. 

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. As vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

1 de dez. de 2018

[Adquira]: Dezesseis - A Estrada da Morte e Contando a Canção

Fim de semana chegou! Que tal se encontrar em duas leituras entorpecentes: DEZESSEIS - A ESTRADA DA MORTE, um enredo inspirado na canção Dezesseis, da banda Legião Urbana; e CONTANDO A CANÇÃO, 10 breves contos inspirados em canções. Lembrando que ambos estão à venda em formato digital, além de, claro, no Kindle Unlimited. Vem junto! 📖📖📖



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