30 de nov. de 2017

"O que aprendi com escritores que escrevem mal"

Eu encontrei esse artigo e achei de grande valia publicá-lo aqui. Vem junto conferir! o/ 


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1. Autores ruins pensam que escrevem muito bem. 
Esta foi a primeira coisa que aprendi. Quão pior o autor maior o nível de confiança. É o que mais invejo nos escritores ruins, a auto confiança. Autores ruins quase sempre acham que já estão prontos, que sabem tudo e que é questão de tempo até que o mundo compreenda sua genialidade. 

2. Autores ruins não gostam de críticas. 
Para eles toda forma de crítica é uma heresia. Demorei muito a entender o motivo pelo qual autores inciantes reagiam tão rispidamente a qualquer crítica, mesmo que construtiva. A verdade é que esses autores não saem da casca e entram num círculo vicioso de não gosto de crítica porque não exponho meu trabalho >>> não exponho meu trabalho porque não gosto de crítica. 

3. Autores ruins repetem os mesmos padrões. 
A coisa que mais me chamava a atenção nos meus tempos de editor era que, por mais que enviássemos e-mails dando dicas de melhoria dos textos, muitos autores respondiam repetindo sempre os mesmos erros. Para alguns era impossível enxergar tais repetições como uso excessivo de adjetivos, falta de coerência verbal ou excesso de vírgulas. Autores ruins vivem tão apegados ao seu estilo que não enxergam outra forma de escrever. 

4. Autores ruins não gostam de ler, leem pouco ou leem apenas um gênero. 
Já ouvi autores dizendo, mais de uma vez, que preferem escrever do que ler. Para mim isso é algo bizarro, é como ser vampiro e ter medo de sangue. Há ainda autores que leem muito e acreditam que estão sendo originais, quando na verdade apenas repetem o que outros escritores já disseram. Outros autores leem apenas aquilo que querem ouvir. Escrevo ficção científica, logo, só leio ficção científica. É um erro clássico. 

5. Escritores ruins querem fazer sentido e/ou serem compreendidos o tempo todo. 
Escritores ruins oscilam entre dois modos de escrita: fazer sentido o tempo todo com textos com uma moral clara e repetitiva ou textos que não dizem nada, mas que merecem ser “interpretados”. O erro mais comum que vejo é a superexposição de sentido. Livros repletos de personagens que se auto-explicam a todo momento como se o leitor fosse burro e não conseguisse ler nada nas entrelinhas. 

6. Escritores ruins não sabem lidar com o tempo ou com a voz. 
Uma coisa que a vida me ensinou foi: textos devem fazer sentido sobre passado, presente e futuro. Existem caras como Faulkner e Joyce que brincam com o tempo, mas se você não é Falkner ou Joyce, cuidado! Flashbacks em demasia, pulos no futuro sem aviso, não saber quem está falando na cena — eis o pacote completo para fazer seu leitor trocar seu livro pelo novo da Kéfera. 

7. Escritores ruins são emocionais. 
Para um escritor imaturo muitas vezes não existe uma linha entre sentimento e criação. Tudo o que se cria é baseado num sentimento. Isso faz dos autores ruins pessoas extremamente dependentes da inspiração. Só escrevem se estiverem de bom humor, se os pássaros cantarem ou se as memórias da infância estiverem vivas na mente. Essa dependência justifica-se pela falta de ferramentas de criação. 

8. Escritores ruins confundem teimosia com estilo. 
De um modo geral escritores ruins estão a todo momento gastando mais energia tentando justificar seus erros do que corrigindo-os. “Esse erro de escrita foi por desatenção” ou “Essa bagunça de personagem sem propósito é parte do meu estilo”. Escritores ruins preferem sacrificar todo um trabalho a se adequar a algumas regras, afinal, regras são para escritores comuns, e muitos autores se sentem acima do resto da turma no quesito “ousadia”. 

9. Escritores ruins não gostam de editar. 
Autores imaturos pensam que cada parte do texto é como um pedaço dos manuscritos do Mar Morto. Nada pode ser cortado. Sabe o rascunho que é feito e logo depois descartado? Um autor ruim não conhece isso — tudo em sua escrita é preservado como relíquia. 

10. Escritores ruins romantizam a vida de escritor. 
O que mais encontro em grupos de escritores é a famosa composição: caneca de café, gato, pilha de livros clássicos, lápis, caderno Moleskine e a frase: A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração. Ok, a frase condiz com a realidade, mas o que ninguém fala é das noites em claro escrevendo um capítulo que, no dia seguinte, será lançado ao lixo. Ninguém fala que na verdade você não escreve sempre no silêncio de uma biblioteca clássica num PC branco da Apple ao som de Bach (eu escrevi este texto nos horários livres no meu trabalho ao som de uma obra que já dura 6 dias!). Ninguém fala dos textos por encomenda, sobre propaganda de sabonete ou ração para cachorro, nem como é difícil escrever depois que você para de fumar ou de como o mercado de editoras está cruelmente abandonando os autores talentosos pelos Youtubers cheios de gírias e livros imbecis. Ou seja, não tem glamour nenhum ser escritor em começo de carreira. 

Bônus track: 

11. Escritores ruins são os que não aprendem. 
Ninguém começa no mundo da escrita lançando o Madame Bovary versão 2017. No mundo da escrita estamos aprendendo constantemente com os nossos e com os erros dos outros. Os grandes autores são os que evoluíram, que passaram por cima do ego, que ofereceram aos leitores uma obra em progressão. São os que se dedicaram completamente  —  sem se contentar com elogios nem se abater com críticas. São os autores que fizeram o que a profissão demanda: escrever, sempre e cada vez melhor. 


[Artigo via]: Medium

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