16 de nov. de 2014

"3 coisas que você deve saber antes de escrever protagonistas femininas"

Eu avistei este artigo no mural do facebook de uma colega-autora, e não poderia deixar de postá-lo aqui. Por fim, ao lê-lo, tive a certeza que acertei e errei com a minha protagonista Alex de "Entre o Céu e o Inferno". Contudo, o meu contentamento maior foi saber que foram 'mais acertos' do que erros. \o/

Este artigo é tão legal e com dicas super válidas, que mesmo não dando para copiar e colar o html aqui no blog, decidi redigitá-lo inteiro , é claro que com o seu devido crédito no final. Confiram:

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A mulher na literatura, seja como personagem, ainda sofre com preconceitos, com um mundo dominado por editores e escritores homens, por um público leitor masculino que ainda se recusam a ler livros que foram escritos por mulheres ou que possuam protagonistas femininas. É por isso também que, muitas vezes, as personagens femininas não nos representam sob nenhum aspecto.

A percepção do gênero

Dificilmente me sinto representada em livros escritos por homens. São raras as exceções em que consigo uma ligação com a personagem ou personagens, porque elas costumam estar carregadas de estereótipos de gênero. Uma das primeiras coisas que acaba com uma personagem feminina é a falta de cuidado ao descrevê-la. Em geral, o autor escreve sua personagem de forma provocativa e sedutora. O corpo dela é destrinchado em partes sensuais para o leitor, num relato da fantasia do autor que a imaginou daquela forma. Isso mostra que ele não entende de coisa alguma do pensamento de uma mulher para com seu corpo.

Em geral, eles também não entendem o funcionamento do corpo feminino. Menstruação parece ser um tabu para os autores, as mulheres nos livros deles não menstruam, não peidam, não arrotam, não têm cólica, não têm orgasmos (e quando têm são, muitas vezes irreais), têm filhos em processos que são lindos e utópicos, nunca passam pelo puerpério, não têm diarreia, e por aí vai. Se gostam de sexo, são ninfomaníacas, se não gostam, são monásticas. Quando elas apresentam alguma coisa, essa coisa é apresentada como uma "desculpa" para evitar alguma ação, sexo com a protagonista, muitas vezes, mas não é demonstrado como algo natural do corpo dela. Ou seja, são mulheres irreais.

Mulheres, dificilmente, são amigas de outras mulheres na literatura, como se nascêssemos para competir uma com as outras, em eternas picuinhas e intriguinhas para arruinar a festa do casamento da outra, roubar o namorado da outra, se vingar por alguma razão. Por favor, parem. Mulheres podem muito bem ser amigas e unidas, pois essa cultura de competição entre as mulheres é um traço cultural desastroso e que não serve para nada além de causar desafeto e muita tristeza. É horrível ter uma amizade que compete com você sobre tudo. É possível ter amizades verdadeiras, não caia nessa lenda urbana.



Diferenças são só diferenças

Um dos grandes problemas dos autores ao criar suas personagens femininas é se utilizar de conceitos, preconceitos e estereótipos negativos sobre as mulheres. O conceito de que "mulher é o sexo frágil" é uma das maiores mentiras usadas para se criar personagens, por isso implica que, muitas vezes, ela precisa de um personagem masculino para realizar qualquer coisa. Diferenças entre um sexo e outro, entre um gênero e outro não podem ser gradientes de valor na hora de compor um personagem. É possível utilizar diferenças, principalmente, para enaltecer desigualdades e criar cenários verossímeis, mas eles não podem pesar sobre uma personagem feminina de maneira a impedir seu bom andamento na trama.

Se uma mulher malhar e pegar peso na academia, ela pode ser tão forte quanto um homem, então a justificativa de que os homens são mais fortes fisicamente cai por terra. É preciso pensar, especialmente em cenários futuros, que os estereótipos negativos e as barreiras que impedem a igualdade entre homens e mulheres já caíram, então não convém utilizar-se dos mesmos atributos para personagens.

Se analisarmos muitas obras de ficção científica, como Fundação, de Isaac Asimov, vemos bem com as mulheres tinham papéis secundários na trama. O primeiro livro de Fundação, se não me engano, tem uma ou outra criada, o resto são todos homens. Aconteceu alguma guerra gênica que eliminou quase todo o cromossomo x,  ou autor não se preocupou com o papel da mulher no seu cenário?

Os estereótipos Sexistas

Protagonistas femininas ainda carregam boa parte das emoções nos enredos. Elas são "irracionais e emotivas", são mais "sensíveis". E aquelas que são mais frias, racionais e determinadas são, normalmente, equiparadas a homens ou masculinizadas. Os estereótipos masculinos  como o garanhão, o salvador da galáxia, não costumam incomodar tanto, são meros detalhes inerentes aos personagens.

Mas os femininos são prejudiciais, pois ficamos relegadas a posições secundárias, como se não fosse possível ser sensível, mas racional, como se as pessoas fossem unilaterais em todos os aspectos. Isso é preconceito do gênero e cai, pesadamente, sobre as mulheres porque ele quase não  sofre alterações de um livro para o outro.

Quem quiser preservar a moral arcaica e embolorada de uma sociedade machista pode fazer isso, mas esse autor não está prestando atenção ao mundo que o cerca, nem nas pessoas que o rodeiam. Mulheres  hoje compõem grande parte do público leitor no mundo (cerca de 80% dos leitores de ficção são mulheres) e ainda somos mal e porcamente representadas na literatura. Será que convém permanecer neste sistema?

Estereótipos que parecem até benignos para alguns, são sintomas de sociedade machista a patriarcal, como mulheres em casa cuidando dos filhos e da casa e que sai de madrugada para salvar a cidade de bandidos. O exercício é simples: se sua protagonista, ao trocar o sexo, continua foda, você fez um bom trabalho. Se os estereótipos jogados sobre ela ficaram ridículos em um  homem, você fez merda.

Segundo a Enciclopédia de Ficção Científica:

"Quando mulheres aparecem na ficção, em geral, elas são definidas por seu relacionamento com o personagem masculino, como objeto de desejo ou para serem temidas, resgatadas ou destruídas. Em tempos em que a sexualidade está mais explícita, elas aparecem para validar a masculinidade do protagonista, que é definitivamente heterossexual.

Longe de mim querer mandar na escrita de alguém, mas ver a perspectiva do outro na hora de escrever, especialmente em se tratando de personagens femininas, é necessário. Quando já se é bem representado na literatura, no cinema, na TV, reparar no outro é um trabalho difícil, mas que precisa ser superado.

Artigo via: Momentum Saga

Um comentário

  1. Muito interessante esse artigo... Eu geralmente não penso tanto nos esteriótipos quando vou escrever e nem na característica que minhas mulheres devem ter, acho que o importante é convencer o leitor sobre a verdade do personagem... Sempre detestei esse padrão feminino que é descrito no artigo.

    Abraços literários!

    Michael Josh
    ESCRITOR E DRAMATURGO
    http://escritormichaeljosh.blogspot.com

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