2 de abr. de 2015

Ética na Literatura - Por Elaine Velasco

Olá, pessoal!

Eu fiquei ausente por algum tempo, sem internet em casa. No entando, estou de volta -, e por sinal, trago pra vocês um artigo super legal, escrito pela autora-editora Elaine Velasco. Confiram:

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Todas as profissões seguem um certo manual de conduta, um código de ética, que geralmente, é ensinado ao longo do curso e recitado na Colação de grau, no dia da formatura. Infelizmente, não existem faculdades para se formar escritores. Por isso, o meio literário está tão cheio de amadorismo, de erros e acertos. A gente aprende é no dia a dia mesmo, “batendo cabeça”. Porém, existem certas coisas que são óbvias, ou ao menos, deveriam ser. Uma delas é a ética.

Falo da ética na hora de lidar com os outros escritores, ao lidar com blogueiros, críticos, editores e todos os demais profissionais que compõem esse meio. O escritor deve entender que, como disse Raphael Draccon há algum tempo - e foi enxovalhado, até porque se expressou mal e foi incompreendido, na minha opinião – hoje, é difícil, senão impossível, um escritor “maldito” se firmar. O bem relacionar-se, vale tanto ou às vezes até mais, do que o bem escrever. Haja visto o caso de vlogueiros e celebridades que “estouram” em vendas, sem que sua literatura seja exatamente de alto nível.

Não quero entrar aqui no mérito de se escrever para vender, ou para ser arte, esse assunto deixo para outro post. Hoje quero tratar do assunto “Ética”. Sempre vejo na internet, barracos envolvendo escritores que não receberam bem uma crítica, ou ainda, escritores que “meteram o pau” publicamente em outros, ou ainda, autores falando mal de suas atuais ou antigas editoras. Vamos por partes.

Comecemos falando dos blogs que fazem críticas literárias. Os blogueiros, são, via de regra, adolescentes e jovens, que gostam de ler e criam blogs/sites, apenas para falar sobre sua paixão. Não possuem formação para tal, fazem o que fazem por amor, por prazer. Divulgam nossos livros sem ganhar nada em troca, dedicando a esse trabalho tempo e carinho. (Experimente cotar quanto um crítico “profissional” cobraria para fazer um trabalho semelhante. O menor valor que você encontrará serão exorbitantes R$ 30.000,00 e isso, sem garantia alguma de que isso lhe dará algum retorno.) Pois bem, acontece que às vezes, o blogueiro não gosta de um livro e o critica abertamente. O escritor há de entender que isso é um direito dele. Quantos livros você mesmo já leu e não gostou? Ou não entendeu?

Quando adolescente, li Machado de Assis e odiei. Há alguns anos, já no auge dos meus trinta anos, experimentei ler novamente e adorei. E por que? Porque desta vez eu entendi! Em minha adolescência, eu não tinha nem maturidade nem conhecimento para entende-lo. Talvez seja isso o que ocorreu com o blogueiro, talvez não. Talvez seja questão de gosto pessoal mesmo. Em todo caso, bater boca não vai fazê-lo mudar de ideia, tampouco gostar de você. Muito pelo contrário, o seu filme vai ficar queimado e ninguém mais vai querer trabalhar com você, nem blogueiro, nem editora – fica a dica, editoras ficam de olho nesse tipo de atitude!



Citarei mais uma vez um exemplo que aconteceu comigo: um blogueiro criticou meu primeiro livro – Limiar – e é claro que eu fiquei muuuuuuito brava. Chorei, me descabelei. Mesmo o livro tendo recebido mil elogios, aquela única crítica serviu para abalar profundamente minha autoconfiança. Tive ganas de xingar, bater boca, dizer que o cara não tinha entendido nada, que era um boçal. Mas respirei fundo e relevei. Não dei ibope. Compreendi que ele tinha todo o direito de não ter gostado do meu livro. Nada nem ninguém é unanimidade, quanto mais eu, mera mortal. Enfim, o tempo passou e esse blogueiro se tornou escritor e publicou seu livro na editora na qual eu era sócia-proprietária. Nos tornamos amigos e hoje conversamos diariamente pelo facebook. Jamais toquei no assunto. Ele também não. Passou, ele fez uma crítica ao meu livro, não à minha pessoa. Compreendi isso e segui em frente. Ponto final.

É difícil? Claro que é. Mas sempre me lembro de minha mãe nessas horas, que exaustivamente me aconselhava: Não faça nada no calor das emoções. Respire fundo, se acalme, deixa a poeira baixar. E se você não quiser nem conseguir falar nada de positivo, então se cale. É melhor e menos degradante que ficar tentando convencer a todos que seu livro foi mal interpretado.


Quero passar agora ao caso dois: escritor falando mal de outro escritor.

No ano passado, li um livro de um autor nacional, que vende feito água, o pessoal adora e eu detestei o tal livro. Sério. Era uma porcaria, um lixo – na minha opinião. Mas eu guardei a opinião pra mim. Ninguém precisava saber disso. Entretanto, fuçando no skoob, vi que uma autora, conhecida minha aliás, havia feito uma resenha “descendo a lenha” no tal livro. OK, eu concordava com ela em número, gênero e grau. Mas não expus isso numa rede social. Logo isso virou fofoca nos meios literários e todo mundo começou a evitar a referida autora, pois todos achavam que era “recalque”, já que ela escrevia o mesmo gênero e enquanto o outro livro era disputado por 3 editoras, ela não tinha uma sequer interessada nos seus. Eu até sei que não é recalque, mas e pra provar que não era? Ela teria ganho muito mais se simplesmente tivesse ficado quieta. Acredito que ela poderia sim ter chamado o autor para expor sua opinião, em particular, tecer críticas construtivas, mas jamais expor o outro assim, em redes sociais. Acabou que quem ficou queimada foi ela.

Em terceiro lugar, quero falar dos autores que falam mal de editoras. É claro que eu sei que existem editoras picaretas aos montes por aí, apenas preocupadas em explorar os autores e seus sonhos. Não estou dizendo que eles devem tolerar isso calados. Mas acredito que nesses casos, eles devem correr atrás de seus direitos na justiça e não ficar difamando a editora internet afora. O pobre autor corre o risco de ainda ser processado por calúnia e difamação e ver mais do seu dinheiro voar para o bolso desses pilantras. Minha dica é: corte laços com essas editoras e se for o caso, corra atrás de seus direitos. Mas ninguém precisa ficar sabendo disso, lembre-se: redes sociais não são confessionários nem divãs. E mais uma coisa: as editoras estão sempre de olho na postura dos autores. Não espere que uma delas o contrate, após você ficar alardeando aos quatro cantos que a melhor coisa do mundo é publicar de forma independente, pois todas as editoras são exploradoras.

Resumindo, a ética, é algo muito fácil de se aplicar: antes de agir, sempre coloque-se no lugar do outro. Imagine-se um blogueiro que gastou dias e noites lendo e divulgando um livro, que, ao final, não era o que ele esperava. Imagine que aquele autor super gente fina, amigo pessoal seu, escreveu um livro extremamente ruim e veio pedir sua opinião. Ou ainda, se pergunte se você fosse um editor, contrataria um autor que mete o pau em suas antigas editoras em todas as redes sociais, porque ele se sentiu lesado em algum ponto.

Viu como é fácil? Ética nada mais é que Empatia.

Artigo via: Elaine Velasco Blogspot

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