Ninguém sabe ao certo o que virá no dia seguinte, no próximo outono, no findar daquele capítulo.
Ninguém consegue imaginar se a próxima página será preenchida com cores sortidas ou linhas suaves.
Não dá para prever se o próximo verão será de sol forte ressecando o solo, ou de chuvas constantes embaçando o vidro do carro.
A vida não nos oferece certezas de espécie alguma, e certo é apenas o momento que vivemos.
É preciso aceitar esse humor variante que a existência tem, e respeitar a força dos ventos, tempestades e turbulências.
É preciso respeito e prudência diante das viradas de página e fechamento de ciclos.
Na noite do último sábado, sentada na cama enquanto assistia ao filme “Noé” (triste coincidência) com meu filho e marido, nossa casa foi atingida pelo tornado que devastou parte de Campinas. Foram cerca de dois minutos sentindo a força poderosa da natureza. Graças a Deus ninguém se feriu, mas nossa casa foi destelhada e teve as árvores tombadas. No dia seguinte, nosso condomínio estava devastado. Parecia cena de filme, coisa que só temos conhecimento através da tevê, e que nunca imaginamos que chegará tão perto de nós.
Quando acontecem eventos assim, que nos pegam de surpresa no meio de um dia comum, percebemos que nada nos pertence nem está sob nosso controle.
A vida é feita de banhos de chuva e incertezas. De girassóis que nos provam a poesia da natureza e orações ao raiar do dia. De beijos de boa noite e a lembrança de alguém que se foi. De cheiro de filho dormindo, e dia começando com gosto de café recém coado. De crenças e descrenças. De intempéries e esperança. De finais e recomeços.
No fim da noite, já deitado em sua cama, meu menino chorou. Chorou pela queda do nosso ipê bem em frente à nossa garagem. O ipê que ele abraçava quando chegamos aqui, há sete anos, e onde suas pipas se enroscavam nos dias de vento. Sabia que no dia seguinte o ipê teria que ser serrado para que saíssemos de casa, e não queria o sacrifício de sua árvore preferida. Expliquei que viriam outras árvores, mas certamente não teríamos mais um ipê.
Nem sempre recomeçamos repetindo nossa história. Os recomeços são distintos, diferentes, e nem por isso piores.
O problema é que nos apegamos ao que vivemos (sendo bom ou ruim) e queremos perpetuar aquilo que já nos habituamos a viver. Muitas vezes o costume é ser infeliz, e nos surpreendemos querendo repetir a infelicidade.
O tempo do ipê passou. E mesmo que fique a saudade daquele que enfeitávamos com luzes brilhantes no natal, agora outra árvore tomará seu lugar.
Que tenhamos sabedoria para aceitar o novo tempo, as novas mudas de árvores, os novos cortes de cabelo, os novos ares, as novas paisagens.
Que haja alegria no fim de um ciclo e começo de outro, e disposição para olhar para frente e nos cercarmos de esperança.
Que permaneça a fé e a coragem, para que possamos permitir que a vida siga seu curso, mudando algumas peças de lugar e alterando o itinerário de nosso caminho.
Que haja um novo sol, uma nova lua, muitas nuvens e alguma chuva.
Que as flores enfeitem nosso jardim mesmo que lhes falte algumas pétalas, e que o canto dos pássaros seja ouvido mesmo que o dia comece menor do que imaginávamos.
Que as crianças cresçam acreditando na gostosura que é um bom banho de chuva; na beleza que é ver uma trilha de formigas carregando um peso maior que seu próprio corpo; no poder da lua em influenciar os partos, os cabelos e a força das marés; e principalmente na magia que existe em observar um arco íris se formando e enfeitando o céu após uma grande tempestade…
Por: Fabíola Simões
Por: Fabíola Simões
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