Hoje trago um artigo bem legal, onde é apresentado os tipos de descrição numa narrativa. Aliás, minha escrita em Dezesseis - A Estrada da Morte foi propositalmente objetiva, o que não agradou há muitos, pois alguns já tinham conferido o meu trabalho anterior, Entre o Céu e o Inferno, que é uma escrita subjetiva. Sabe, eu gosto de me testar, e se o leitor ficar esperando sempre o mesmo na minha escrita, pode se decepcionar. Pois bem, com o que estou escrevendo atualmente, ou seja, Redenção, a narrativa e diálogos estão balanceados: objetiva e subjetivamente, pois é desta forma que preferi conduzir o conteúdo. Eu não gosto de me prender a estereótipos —, e detalhe: como leitora odeio textos detalhistas. Geralmente fujo dessas leituras, pois elas me cansam. Por fim, o artigo é um tanto longo, mas vale a pena conferir. Vem junto! \o
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Cada autor possui uma forma diferente de escrever e talvez a maneira que eu escreva não seja a certa para você. Eu acredito que não existe forma errada de se expressar pela escrita, mas sim formas para melhorar, aprender, evoluir, complementar e ajeitar a maneira natural que as palavras saem de nossos dedos.
Talvez eu não seja a melhor pessoa para estar dando dicas sobre escrita, mas compartilhar o pouco que sei para aqueles que estão começando me faz bem. Então vamos deixar de enrolação e vamos falar do que vocês vieram colher aqui!
A descrição é uma etapa complicada da escrita, há aqueles que descrevem de mais deixando o texto cansativo, há aqueles que descrevem de menos deixando espaços em branco na narrativa e há aqueles que conseguem mesclar e criar uma sintonia de descrições ricas, porém sem serem cansativas.
Aposto que você está aqui para ser aquele último tipo que falei logo na linhazinha bonita de cima, não é mesmo? Nem eu sei se me encaixo ali, mas tentar e não desistir é o nosso lema!
Primeiramente você deve pensar no público alvo ao qual a sua história será exposta. Não adianta usar frases do tipo “possuía um nariz avultado e olhos matizados que mesclavam toda uma vivacidade” em um livro infantil, a criança vai pensar “mãe, acho que esse livro é pra você, tem umas palavras velhas e estranhas da sua época”.
Já sabe qual linguagem usar? Então vamos lá!
Tipos de descrição:
Temos dois tipos de descrição, a objetiva e subjetiva (ou denotativa e conotativa):
♥ A objetiva é algo mais direto e sem floreios. Descreve a pessoa, objeto, lugar da forma que realmente é. Se duas pessoas diferentes descrevessem o elemento, a descrição seria a mesma.
♥ A subjetiva já é mais poética e utiliza elementos mais metafóricos, ou seja, tem um certo sentimento, depende muito da relação da pessoa que descreve com o elemento descrito.
Se duas pessoas diferentes, por exemplo, descrevessem um brócolis, uma poderia facilmente dizer que é um vegetal verde delicioso e outra poderia dizer que é um vegetal intragável.
Quando usar?
É uma escolha pessoal, não há maneira certa ou errada de usar. Vou explicar mais ou menos como uso.
♥ Descrevendo pessoas: depende muito do personagem. Se é secundário ou sem tanta importância uso mais a objetiva. Se é o principal uso uma mistura dos dois. Se é um personagem ao qual o protagonista está apaixonado ou tem um relacionamento mais próximo, usarei a subjetiva.
♥ Descrevendo objetos: costumo usar mais a descrição objetiva e dependendo da importância vou acrescentando mais detalhes, também escrevo sobre lembranças e sentimentos do personagem em relação ao objeto.
♥ Descrevendo lugares: dependendo da importância do local a descrição fica maior ou menor, com menos e mais detalhes. Geralmente uso mais a objetiva e acrescento o que o personagem sente naquele momento como frio, calor, se há vento...
♥ Descrevendo cenas: As cenas são o que compõem o todo e são elas que vão fazer mais ou menos 80% do seu livro. Através delas são narrados os acontecimentos da história. Uma boa descrição de acontecimentos faz a história fluir melhor. Quanto mais detalhe, mais rico e mais sensações são passadas ao leitor.
Descrevendo pessoas:
Existem dois tipos de descrições importantes quando falamos de pessoas, a física e a psicológica. Não costumo usar muito a descrição psicológica já que escrevo em primeira pessoa e gosto mais que os leitores conheçam o psicológico dos personagens pelas atitudes.
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Descrição física: vai descrever a aparência do personagem. Exemplos:
○Descrição objetiva (personagem secundário): ”Ela tinha os cabelos loiros bem encaracolados e armados, era gordinha, usava óculos com lentes bem grossas que deixavam seus olhos verdes minúsculos”. — E quem disse que eu sou normal?
○Descrição objetiva e subjetiva misturadas (personagem importante): ”Ele deveria ter uns quarenta e poucos anos, talvez mais. Seus cabelos eram pretos como a própria escuridão (sem falar nas entradas que ele tinha), seus olhos eram tão escuros e penetrantes que faziam a minha espinha congelar! Ele vestia uma calça social preta, uma camisa cinza e um tipo de manto vinho. Ele me lembrava um vampiro ou algo do tipo, sua pele era pálida e seu sorriso horripilante era de um branco anormal. As bochechas ossudas não eram nada amistosas”. — E quem disse que eu sou normal?
○Descrição subjetiva (paixão do protagonista): “ela tinha os cabelos pretos e olhos verdes que faziam sua beleza reluzir, seu rosto era angelical e gracioso, era um tanto baixinha o que a fazia parecer mais delicada ainda”. — Quando o outono chega.
♥ Descrição psicológica:
Define a personalidade dos personagens. Exemplos:
○ Descrição objetiva: Dolores Dellmans era tímida.
○ Descrição subjetiva: “[...] qualquer elogio faz com que eu comece a ficar rosada e dependendo do que for, eu posso ficar vermelha como um pimentão!”. — E quem disse que eu sou normal?
“[...] ele sussurrou no meu ouvido com um tom divertido, eu ri começando a ficar vermelha (por que você está corando?), eu vou lá saber!”. — E quem disse que eu sou normal?
○ Descrição objetiva: “[...] ele vira esse famoso convencido”. — Grace e o Espelho.
○ Característica definida através da atitude: “ — Sabe o quão difícil é estar bonito sempre?! — ele passou a mão no cabelo me lançando um olhar sedutor brincalhão, eu comecei a rir — Espera, eu sou lindo sempre”. — Grace e o Espelho.
♥ Como montar uma descrição física?
○ Primeiro: imagine o personagem e defina como você quer passar a sua imagem para os leitores, pense em cada detalhe e veja o que é importante deixar claro e o que se pode ocultar.
Por exemplo, eu não costumo descrever narizes, pés, orelhas e formatos de olhos se eles forem algo padrão e normal. Se houver um detalhe que é marcante para o personagem como: nariz grande, nariz arrebitado, orelha pontiagudas, pés virados ao contrário... Então é necessário descrever. (Lembrando que é uma sugestão minha, tem gente que realmente gosta de descrever todos os detalhes para o leitor saber exatamente como o personagem é. Eu já gosto mais de deixar a imaginação dos leitores fluir um pouco).
○ Segundo: defina as características. Para o físico temos: idade, altura, peso, ombros, cabelo, olhos, nariz, boca, orelha, mãos, pés, formato do rosto, marcas de expressão, cicatrizes, descendência e assim por diante. Tenho um arquivo “ficha” de personagem que pode ajudar.
○ Terceiro: desenvolva as características básicas que você preparou. Use seu vocabulário, metáforas, comparações... faça do simples algo bonito que passe informações.
Ex: “O rosto da velha era muito enrugado, conseguíamos ver as concavidades de suas bochechas por seu rosto ser quase cadavérico e sem cor, seus olhos eram tão negros que não se podia diferenciar a íris da esclera, o nariz era grande e enrugado, suas orelhas tinham um rasgo na ponta como se tivesse usado brincos pesados por muito tempo e eles foram capazes de rasgar o lóbulo, seus cabelos eram acinzentados e extremamente armados”. — Grace e o Espelho.
— Nesse exemplo podemos ver uma descrição um pouco mais detalhada do rosto da personagem.
♥ Como montar descrição psicológica?
Você pode seguir os mesmos passos da descrição física (imaginar, definir e desenvolver), a diferença é que você pode acrescentar “tiques”, manias, atitudes, palavras e outros detalhes para reforçar a descrição.
○ Base da descrição: Diana era uma mulher forte (se achava a diva poderosa).
○ Atitude: “Eu estava agindo completamente diferente, minhas sobrancelhas arqueadas para cima com aquele ar superior e minha boca torcida em um sorriso de lado um tanto quanto arrogante”. — E quem disse que eu sou normal?
"Eu me sentei na cadeira com as costas retas e peito estufado, uma pose um tanto quanto “eu sou a dona do mundo””. — E quem disse que eu sou normal?
Descrevendo um objeto.
Objetos são mais simples para se descrever, já que não temos a parte psicológica (a não ser que os seus objetos ganhem vida ou estejam enfeitiçados como o Lumière).
○ Exemplo: “A moldura branca era bem antiga e estava um pouco desgastada, era toda trabalhada com curvas e ornamentos, ela me lembrava espelhos milenares usados por reis e rainhas há muito tempo atrás”. — Grace e o Espelho.
No trecho “A moldura branca era bem antiga e estava um pouco desgastada, era toda trabalhada com curvas e ornamentos” vemos uma descrição objetiva.
No trecho “[...] ela me lembrava espelhos milenares usados por reis e rainhas há muito tempo atrás” é o efeito que o objeto causa no personagem
○ Outro exemplo : “O brasão parecia um escudo com duas espadas cruzando por trás e umas ramificações o envolvendo embaixo. Na parte de cima e de baixo havia um tipo de faixa, a primeira dizia “Protego Maxima. Repello inimicum” e na outra estava “Isamronarap”. O escudo era da cor vinho e tinha uma faixa prateada como se fosse uma ponta de seta no meio, sobre tudo isso havia o desenho da sombra de um dragão. Era bem legal e... medieval”. — E quem disse que eu sou normal?
Essa descrição acima é desse brasão aqui. Você consegue descrevê-lo de outra forma usando mais detalhes? Deixe nos comentários! (Percebi que não faço descrições muito detalhadas de objetos... eu deveria trabalhar mais nisso!).
Descrevendo um lugar.
Quanto mais cheia de detalhes, sensações e sentimentos mais a descrição ficará bonita. Você deve lembrar que o seu objetivo é situar o leitor no lugar e despertar nele memórias. Quando o lugar é importante eu costumo usar mais metáforas e procuro descrever mais detalhes, não muito para não ficar algo maçante e cansativo.
○ Exemplo: Eu estava sentada sobre a grama recém cortada de um grande parque. Sentia o cheiro da grama que impregnava minhas narinas me relaxando com aquele cheiro familiar de orvalho, o vento suave acariciava o meu rosto como leve carícias e balançava de leve meus cabelos. As copas das árvores estavam cheias de folhas verdes em seu auge, conseguia ver feixes dourados de sol por entre a folhagem e pequenos grãos brilhantes voavam como glitter. Havia um caminho pavimentados que percorria o parque inteiro com suas curvas delicadas, pessoas caminhavam e riam naquela tarde de verão, crianças corriam e cachorros latiam. O céu estava claro e podia-se ver formatos diferentes nas nuvens brancas.
Você conseguiu sentir alguma coisa lendo essa descrição acima?
○ Exemplo 2 (em terceira pessoa para mudar um pouco): Roberto estava em um corredor interminável, as únicas coisas que o iluminavam eram pequenas lamparinas com chamas tremulantes penduradas na parede que poderiam se apagar a qualquer momento. O corredor era frio com paredes de pedra, isso o fazia sentir um arrepio na espinha, a corrente de ar agressiva estava úmida e sufocante, ela cortava seu rosto como garras afiadas de gato. O eco de pingos de água caindo no chão o deixavam frustrado como um relógio que contava o seu tempo de vida. O piso irregular o fazia tropeçar de tempos em tempos, o cheiro de algo podre o mareou. O barulho incessante de pingos de água o perseguia, as lamparinas diminuíam conforme ele chegava ao fim do corredor escuro, o frio estava começando a se tornar insuportável. Então sentiu algo úmido e viscoso cair sobre sua cabeça.
O que você sentiu e qual foi a sua impressão dessa descrição?
Descrevendo uma cena.
Há vários pontos e elementos que podem ser usados para descrever uma cena. Geralmente usamos uma mistura de todas as descrições (de pessoas, objetos, lugar...). É normal iniciar algo seguindo a seguinte ordem: quem está na cena -> onde estão -> o que estão fazendo ou o que acontece.
○ Descrição objetiva básica: Dolores e Julia estão em um parque conversando sobre o menino novo da escola, elas riem durante a conversa.
○ Descrição obj mais elaborada: Dolores, uma garota baixinha de olhos verdes e cabelos castanhos, e Julia, alta de olhos castanhos e cabelos pretos, estão em um parque recheado por árvores de copas verdes, sentadas na grama recém aparada enquanto aproveitam o dia de sol. Elas conversavam sobre o menino novo da escola e riam ao lembrar de suas piadas.
○ Descrição subjetiva: Dolores, uma garota baixinha de olhar vívido transmitido através de seus olhos verdes, e Julia, de olhos castanhos semelhantes ao de chocolate amargo e cabelos negros como a escuridão, estão em um parque recheado por árvores de copas verdes que lembravam a força da primavera, ambas estão sentadas sobre a grama recém aparada e sentem o cheiro da natureza, sentiam-se abraçadas pelo calor gostoso do sol que havia naquele dia. Elas conversavam sobre o menino novo da escola que já havia causado uma confusão com sua entrada triunfal, elas riam ao se lembrar das piadas que o garoto contava.
(Ok, talvez eu tenha exagerado um pouco nessa última...).
○ Outro exemplo: “Nós não estávamos girando tão rápido, eu conseguia ver o céu e o topo das árvores se mexendo, depois ela começou a girar mais rápido e tudo começou a se misturar como numa pintura de arte, eu sentia uma brisa leve que cheirava a outono, qual é o cheiro do outono? É uma coisa impossível de se descrever, mas acho que é um dos melhores cheiros que eu já senti na minha vida. A sensação era ótima! Sua risada gostosa me contagiava, eu estava finalmente sentindo a vida voltar a mim. Então nós giramos forte de mais fazendo com que nos soltássemos, caímos no chão em cima de várias folhas alaranjadas que amorteceram nossa queda”. — Quando o outono chega.
♥ Dica extra: Como introduzir uma descrição de pessoa.
Sempre achei complicado introduzir uma descrição física no meio do texto. Sentia que estava fazendo de forma errada e quebrava o raciocínio e evolução da história. Achei alguns meios de introduzir!
○ Se olhando no espelho: “Levantei-me da cama e encarei o espelho do banheiro imundo. Meus olhos caídos não possuíam expressão, eram olhos de vidro, meu cabelo castanho bagunçado não era lavado há três dias, minha barba estava grande e precisava ser aparada urgentemente, mas quem disse que eu me importava?”. — Quando o outono chega.
○ Outro personagem o descreve: — É claro que é ridícula. Essa sua franjinha é ridícula — passou a mão no meu cabelo bagunçando a minha franja — Esse seu cabelo enrolado e curto é horrível, sem falar nesses seus óculos enormes! — ela puxou o meu cabelo e depois o soltou com força no meu rosto. Só consegui sentir a dor latejante da minha cabeça”. — Grace e o Espelho.
○ Refletindo sobre a vida: “Eu nem sou tão bonita assim ou coisa do tipo! Sou bem baixinha (1,55) e não cresço mais! Meus cabelos são castanhos ondulados (às vezes formam alguns cachos solitários, mas raramente), meus olhos são verdes e eu sou meio gordinha, não que isso me incomode, nunca me incomodou. Então não tenho nem ideia do que o Henrique viu em mim, sem falar que eu sou bem nerd e ele é bem descolado (pelo menos de acordo com todas as revistas do mundo)”. — E quem disse que eu sou normal?
○ Logo no início da história: “Joana acreditava que era uma fada e que tudo podia realizar. Ela, com seus braços gorduchinhos e olhinhos amendoados, saía sempre acompanhada com a sua varinha de condão e sua sainha de tutu rosa, claro que não poderia se esquecer da tiara brilhante que se destacava em seus cabelos escuros”. — O príncipe e a fadinha.
○ De qualquer outra forma que você achar apropriada! Solte sua imaginação! Isso é o mais importante, faça da sua história sua, não se prenda no estilo de escrita dos outros, crie o seu próprio.
Vou terminando o post por aqui! Ele ficou parecendo uma enciclopédia (Pandipédia hehe). Se acha que eu esqueci de mencionar algo ou se tem dicas para compartilhar comigo, fique à la vonté!
Lembre-se que o mais importante é escrever com o coração e não dar ouvidos à pessoas negativas que ficam o tempo todo pensando e dizendo “não faça isso, não faça aquilo”.
Artigo via: Pandinando
Olá, Simone!
ResponderExcluirAdorei o artigo da Ayumi.
Bem, eu gosto de descrições que tragam lacunas. Sei que pessoas gostam de textos fechados, redondinhos; entretanto, eu prefiro que haja espaços vagos para minha mente viajar.
Amo textos fragmentares que parecem com pistas para desvendarmos um enigma.
Obrigado por compartilhar o texto de sua amiga.
Beijo no coração!!!
Oi, Fer!
ExcluirTambém curto descrições com lacunas. A propósito, curto qualquer descrição, desde que me envolva e de alguma forma toque o meu coração.
Beijossssss
Volte sempre!!!