Hoje eu trago uma resenha diferente, pois não se trata de um enredo construído, mas sim relatos de um período em que um dos grandes nomes do Rock Nacional passou. Estou falando de um dos meus ídolos, Renato Russo, e seus 29 dias internado na clínica de reabilitação Vila Serena (no Rio de Janeiro), em 1993.
Esse livro foi uma troca com outra legionária que conheci há pouco e que tenho grande apreço, a Marina Rodrigues. Ela me procurou (via facebook), assim que lancei "Dezesseis - A Estrada da Morte", este inspirado na canção Dezesseis da Legião Urbana, sugerindo a troca, o que aceitei de prontidão. P.S: Obrigada, Mari! S2 Agora vamos de sinopse, book trailer e resenha de "Só por hoje e para sempre - Diário do Recomeço", uma publicação da "Companhia das Letras".
Sinopse: Entre abril e maio de 1993, Renato Russo passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico seguiu com total dedicação os Doze Passos, programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios de escrita. É este material inédito que vem à tona depois de mais de vinte anos em Só por hoje e para sempre, graças ao desejo de Renato de ter sua obra publicada postumamente. Entremeando as memórias do líder da Legião Urbana com passagens de autoanálise e um olhar esperançoso para o futuro, este relato oferece a seus fãs, além de valioso documento histórico, um contato íntimo com o artista e um exemplo decisivo de superação.
Perdi vinte em vinte nove amizades, por conta de uma pedra em minhas mãos..."
Se você acha que vai viajar em páginas de uma autobiografia... PARE POR AQUI!
Em primeiro lugar, o leitor que estiver prestes a dar início nessa leitura tem que estar ciente que NÃO se trata de uma biografia, mas sim de um período de 29 dias em que Renato Russo esteve internado, para se recuperar da sua dependência química e alcoólica, e que, também, tornou-se uma luta pessoal. Portanto, as 168 páginas deste livro são relatos em cartas, adornadas de sentimentos dilacerantes e transtornados.
Assim como sou fã do Renato e da Legião, sou ainda mais fã de Kurt Cobain e do Nirvana —, e já faz algum tempo que conferi a biografia "Mais Pesado Que O Céu" (essa sem resenha, pois estava no meu antigo blog que foi deletado), e também "Kurt Cobain - A Construção do Mito" (para conferir a resenha, clique AQUI), ambas autorizadas pela família e amigos e escritas por Charles R. Cross.
Foi surreal ler os sentimentos do Renato, pois me deparei com sentimentos bem parecidos com os do Kurt. Afinal, eles eram seres humanos que sentiam tudo (e todos) de forma intensa, e tanto um quanto o outro ansiavam pelo simples, contudo, tornaram-se extraordinários. O problema é que até mesmo o extraordinário caminha pela escuridão e se perde pela estrada.
Não há mais nada a ser dito, pois como já mencionei, trata-se de relatos em cartas de um curto período de reabilitação. Por isso, não espere um enredo construído com cenas e diálogos, mas sim relatos de uma pessoa que sentia tudo de forma intensa, ora achando-se vítima, ora se achando o predador... Um homem genial que, infelizmente, desfrutou de sua genialidade descarregando sentimentos, conhecimento e pensamentos em vícios, afastando-se de muitos, assustando tantos outros... Mas que, no fim, tocava a todos com sua genialidade em forma de canção. Para aqueles que não são fãs, essa leitura pode ser um tanto insossa. Mas se você é fã, siga em frente. S2 Agora vou deixar alguns trechos/relatos citados em muitas das cartas descritas pelo Renato.
No momento minha reputação é PÉSSIMA, e isso devido a incidentes que realmente aconteceram: problemas com segurança em shows, violência física e verbal de minha parte, instabilidade emocional, escândalos públicos, e tudo por conta de drogas e álcool. Me sinto envergonhado e confuso por tudo isso e muitas vezes me questionei, por me sentir culpado de não estar sendo um bom exemplo para a juventude. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.25)
Não acredito estar sabotando meu tratamento. Se estiver, é com meu martelar nesta questão do uso da palavra "Deus" constantemente (o que me incomoda um pouco), e isso não foi tratado no vídeo, que me lembre. Talvez racionalizando demais ou não entrando firme em contato com meus sentimentos ou não trabalhando minha autoestima corretamente. Mas acredito sinceramente que estou me esforçando, que sou honesto e que já consegui meu primeiro passo! (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.39)
Hoje remexi no baú e fantasmas ainda estão voando à minha volta, por toda parte — lidar com isso com maturidade, Renato! O bloqueio persiste, no entanto; bem, ninguém é perfeito. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.46)
Acho que me ressentia com minha própria indiferença, que buscava desesperadamente no álcool e tranquilizantes, a cada dia com resultados mais negativos. Isso aconteceu com certeza quase todo dia, desde meados de janeiro deste ano até minha chegada à Vila Serena. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.62)
Mesmo com altos e baixos começo a perceber que estou mais equilibrado. Me assusta um pouco perceber também uma série de coisas a meu respeito (que eu sabia mas abafava, ou então evitava completamente). Estou tranquilo — mas, sinceramente, este desabafo é maior do que eu imaginava. Parar é fácil — o difícil é continuar sem drogas, sem álcool. Mais difícil ainda (para mim) é resgatar o prazer de viver. Espero chegar lá. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.78)
Fiz uma descoberta (algo que devo trabalhar): não estou acostumado com carinho e aceitação das pessoas! Isso tem me deixado confuso. Fiz um curso intensivo em manipulação (com meu trabalho, o marketing e a construção em cima de uma "imagem") e agora, quando percebo minha falta de autoestima (na época de minha adicção) e tento reaver esse sentimento, me sinto bloqueado. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.118)
Qualquer pessoa que comprou um bom sistema 3x1 sabe que é difícil voltar à vitrolinha portátil do passado. O que devo trabalhar é meu incessante fantasiar (preciso definir limites p/minha imaginação) e minha dependência de pessoas. Desligamento e assertividade sempre! No mais, espero progredir como ser humano, a cada 24 horas, sempre ciente da minha doença. (Livro: Só por hoje e para sempre, Diário do Recomeço - Pág.157)
Livro: Só por hoje e para sempre - Diário do Recomeço
Por: Legião Urbana Produções Artísticas Ltda.
Índice: Músicos brasileiros - Diários
Editora: Companhia Das Letras
Ano: 2015
Páginas: 168
Muito bom esse livro, serve como uma reflexão necessária pra muita gente, valeu Simone Pesci.
ResponderExcluirBem-vindo, Paulo!
ExcluirConcordo com você em gênero e grau.
Volte sempre!
Abraços
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