O dia em que deixei de acreditar em histórias de amor não foi um dia bonito. Não sei precisar o mês. Não sei precisar se era Outono ou Primavera. Por certo, era Inverno. Não me lembro da hora que acordei ou do que fiz a seguir. Na verdade, lembro-me muito pouco desse dia. Ou desses dias. Simplesmente sei que, sem que nada o fizesse prever, deixei de acreditar em histórias de amor. Talvez o crescer me tenha levado a crença. Talvez os estilhaços do meu coração magoado me tenham feito enxergar a verdade. Talvez.
Desde cedo, muito cedo, que me apaixonei perdidamente pelos livros e pelas histórias. Foi um amor à primeira vista quando, com cinco anos apenas, recebi como presente de aniversário (no tempo em que ainda festejava o meu aniversário) o livro da Cinderela. Era um livro muito bonito, com um design muito original e com imagens lindas demais. Ainda hoje guardo esse livro, da mesma forma que guardo, num cantinho do coração, um carinho especial pela menina que se tornou princesa por causa de um sapato. Adiante. Dizia eu que, desde cedo, me apaixonei pelos livros e, à medida que fui crescendo, pelos romances. Perdia tardes e tardes a ler e a imaginar que, um dia, também haveria de aparecer um príncipe na minha vida. E nem precisava de ter cavalo branco, bastava que fosse príncipe, um príncipe de verdade. Os anos foram passando e descobri esse maravilhoso contador de histórias, o senhor Nicholas Sparks. Li o primeiro livro e nunca mais parei. Eram histórias de amor dignas de filme. Histórias em que tudo começava bem, depois corria tudo mal e, por fim, todos faziam as pazes e viviam felizes para todo o sempre. Como eu me deliciava com essas histórias. Como eu acreditava que, na vida real, tudo seria assim. Porque, se estava escrito em tantos livros, não seria obra do acaso. Porque, acreditava eu, essas histórias de encantar deveriam, forçosamente, ter um fundo de verdade ou deveriam ter sido inspiradas em acontecimentos reais. Se assim era, era quase obrigatório que eu acreditasse.
À medida que o tempo foi correndo, à medida que o meu coração foi ficando lascado devido a tantas e tantas perdas, tantas e tantas desilusões, as histórias de amor escritas pelo senhor das histórias de amor foram deixando de fazer sentido. À medida que o meu coração foi arrefecendo, ou crescendo talvez, comecei a olhar com outros olhos e percebi que as histórias de amor perfeitas só existem nos livros. E nos filmes baseados nos livros. A realidade é bem diferente, desprovida de homens feitos príncipes e de mulheres que esperam o tempo que for preciso pelo reencontro com um grande amor. Percebi que, na realidade, os homens assemelham-se mais a sapos e as mulheres têm mais o que fazer do que acreditar em promessas que nunca serão cumpridas.
Não foi bonito o dia em que deixei de acreditar em histórias de amor. Foi um dia triste e cinzento. Foi o dia em que arrumei todos os livros com histórias de amor numa caixa de papelão, para que não mais tivesse vontade de os reler, para que não caísse na tentação de voltar a acreditar em histórias de amor irreais. Foi um dia que não mais esqueci, apesar de não me recordar do dia certo nem da hora exata. Apenas sei que foi um dia de viragem. Foi a partir desse dia que deixei de me dar, que deixei de confiar, que passei a ter cautelas e mil e um cuidados, não fosse o príncipe que não é príncipe trespassar-me novamente o coração.
O dia em que deixei de acreditar em histórias de amor marcou o meu crescimento. Fiz-me mulher, mais mulher. Troquei os romances pelos policiais e pelas histórias de verdade, aquelas que existiram mesmo e que não foram inventadas por vendedores de histórias de amor. Ao senhor Nicholas Sparks, agradeço imenso pelo tempo em que me fez acreditar que as histórias dos seus livros poderiam transpor-se para a realidade. Foi um bom tempo de ilusão. Mas acabou. Não mais voltei a ler os seus livros. Não tenho vontade. Não quero voltar a achar neles desilusão e romance barato. Lamento.
O dia em que deixei de acreditar em histórias de amor foi um dia difícil. Mas necessário. E hoje, passados alguns anos, percebi que, melhor do que acreditar em histórias de amor, é encontrá-las. No café que fica na esquina da rua. No jardim do limite da cidade. Nos bancos de pedra que ladeiam os caminhos de granito. As histórias de amor, as de verdade, confrontam-nos todos os dias. Se houve um dia em que deixei de acreditar em histórias de amor, haverá, por certo, um dia em que serei eu a escrevê-las, com um toque de verdade e muita realidade à mistura.
Via: Obvious
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