5 de mai. de 2017

[Falando em]: Dias Perfeitos — de Raphael Montes

Eu adquiri esse livro em 2014, após assistir uma entrevista que o autor concedeu ao "Programa do Jô", e logo de cara AMEI a premissa da história. Conclui a leitura em menos de dois dias, e mesmo achando perturbante, tornei-me fã do Raphael Montes. A propósito, o óculos da imagem abaixo é de grande importância no enredo. Confira a sinopse, book trailer e o meu parecer de "Dias Perfeitos", uma publicação da Companhia das Letras



Sinopse: Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez. O efeito é perturbador. Téo fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas atitudes com uma lógica impecável. A capacidade do autor de explorar uma psique doentia é impressionante  e o mergulho psicológico não impede que o livro siga um ritmo eletrizante, repleto de surpresas, digno dos melhores thrillers da atualidade. Dias perfeitos é uma história de amor, sequestro e obsessão. Capaz de manter os personagens em tensão permanente e pródigo em diálogos afiados, Raphael Montes reafirma sua vocação para o suspense e se consolida como um grande talento da nova literatura nacional. 





"Porque de louco todo mundo tem um pouco" 




Um enredo perturbador!

Teodoro Avelar Guimarães  mais conhecido como Téo  tem vinte e dois anos e estuda medicina. Ele mora no Rio de Janeiro com a mãe paraplégica, Patrícia, além de pertencer a uma ex família de status. Desprovido de sentimentos (até mesmo pela mãe), é um tanto perturbado e sádico, apegando-se a um cadáver da sua aula de anatomia, o qual dá o nome de Gertrudes. 
As macas pelos cantos, os cadáveres dissecados, os membros e os órgãos em potes davam a ele uma sensação de liberdade que não encontrava em nenhum outro lugar. Gostava do cheiro de formol, das ferramentas nas mãos enluvadas, de ter Gertrudes sobre a mesa. (Livro: Dias Perfeitos, Pág.10)
Clarice Manhães é uma jovem de vinte e quatro anos. Ela estuda História da Arte na UERJ, mora com a mãe, Helena, além do pai que vive ausente. Entusiasta da vida, sonha em tornar-se roteirista de cinema  e, atualmente, está escrevendo um road movie. Ambos se conhecem em um churrasco, o qual a mãe de Téo o obriga a ir. Tal qual a surpresa dele, depois de perder sua amiga Gertrudes, conhecer Clarice. Ela é o seu oposto: um tanto comunicativa e extrovertida o deixa fascinado, para além de obcecado. 
Colocou duas malas de pé, próximas à porta. Conferiu se Clarice estava confortável naquela posição. Arrastou a mesa, enrolou o tapete manchado de sangue. Estudou o movimento na rua: poucos passantes, todos distraídos. Guardou tapete e malas no bagageiro do carro. Checou mais uma vez se ela parecia bem. Devolveu a mesa de centro ao lugar, trancou a porta da casa e deu partida no Vectra. (Livro: Dias Perfeitos, Pág.44)
Téo deixa a mãe aos cuidados de Marli (sua vizinha e melhor amiga), e de forma inconsequente sequestra Clarice, sedando-a com Thiolax, colocando o seu pequeno corpo dentro de uma mala de viagem e destinando-os ao roteiro que ela está escrevendo. Eles se hospedam no Hotel Fazenda Lago dos Anões, um lugar frequentado há anos pela família da garota, e nesse intermédio de tempo, Téo se vê de frente com Breno, o atual namorado de Clarice. 
Téo se aproximou, passos calculados, mãos levantadas. Clarice puxou o gatilho. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes, puxou o gatilho. O tambor executou um giro completo, indiferente. Téo avançou e bateu nas mãos dela. Sentia um misto de angústia e raiva. Esbofeteou Clarice. (Livro: Dias Perfeitos: Pág.104)
Agora cesso os meus comentários para não soltar mais spoilers.  

Dias Perfeitos é um enredo forte, propício para amantes de um excelente suspense psicológico. As nuances expostas nas características do protagonista é de um psicopata, algo que o autor soube evidenciar detalhadamente e com maestria. O personagem é sádico e ao mesmo tempo envolvente: ele comete horrores para ter a atenção (e o amor) da garota que pensa amar, não se importando com as consequências dos seus atos, cometendo atrocidades inimagináveis, sempre com uma excessiva sordidez. E como todo 'psicopata', ele tem o dom de criar estratégias para perguntas e respostas e se safar de qualquer indício de culpa, acreditando que o que faz é o correto. 

Em algumas cenas cheguei a perder o fôlego de tanto nervoso, querendo adentrar as páginas do livro para ajudar Clarice. Os personagens secundários aparecem pouco, mas são de suma importância. O final é SURPREENDENTE, fugindo totalmente do esperado. Eu vi muitas reclamações sobre este final, mas, a meu ver, foi MAIS QUE PERFEITO... UMA JOGADA DE MESTRE!!! Ouvi dizer que esse enredo vai para as telonas, algo que estou torcendo para que aconteça. E desde já, afirmo: "Eu leio até mesmo a lista de compras do Raphael". o/ hahaha

O enredo é narrado em terceira pessoa, com narrativa e diálogos de fácil compreensão; a diagramação do livro é simples, com espaçamentos e fontes em bom tamanho, adornado em papel Pólen Soft (o amarelinho mais claro); e a capa é instigante e muito bonita, estampando um anãozinho, algo que caiu com perfeição. Por fim, para você que curte um enredo muito bem desenvolvido e perturbador, eis essa MARAVILHOSA pedida. 



Livro: Dias Perfeitos
Autor: Raphael Montes
Gênero: Suspense Psicológico
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014
Páginas: 278

2 comentários

  1. Que tensão hein? Depois dessa resenha, preciso ler esse livro.

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