11 de mai. de 2017

Vida de Pipoca — por Rubem Alves

Milho de pipoca que não passa pelo fogo, continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. 

Há sempre o recurso do remédio: Apagar o fogo! Sem fogo, o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também. 

Imagino que a pobre pipoca, fechada, dentro da panela cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou. Vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não imagina do que é capaz. 

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! Ela aparece em uma forma completamente distinta, algo que ela mesma nunca havia sonhado. 

Bem, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. É como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. E triste é o seu destino, uma vez que permanece dura a vida inteira. Vão acabar sozinhas. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria a ninguém.


[Texto extraído do livro]: O amor que acende a lua, de Rubem Alves.
[Via]: DeRose Method

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