Escrevi dezenas de cartas de amor, talvez mais de cem, se contarmos cartões, bilhetes ou mensagens espalhadas pela casa em bolsas, gavetas, armários, ou mesmo o batido “eu te amo” no espelho do banheiro.
Recebi muito menos do que desejava. Houve um tempo em que achei que não era justo um saldo tão desigual. Mas no final entendi que as coisas não funcionam assim e que não é possível forçar nada. Foram poucas, muito poucas, e menos ainda de quem eu mais queria.
Fiz outras tantas dezenas de declarações de amor. Não me refiro ao insosso “eu te amo” com beijo na testa do dia-a-dia, mas àquelas que começam lentas, com a pessoa olhando para as mãos indóceis até se deflagrar uma espécie de temporal de verão, com lágrimas em profusão, ou então secas nos olhos e molhadas nos beijos que se seguiam. Mas de novo escutei menos declarações do que gostaria. OK, já entendi que o problema está comigo.
O engraçado é que apesar de estar aqui reclamando, a verdade é que não guardei as declarações que recebi. Lembro-me de cada uma, mas joguei tudo fora. Acredito que as mulheres são mais fiéis às suas lembranças e seus segredos.
Quando precisei embalar minhas coisas para fazer minha mudança para o Rio, encontrei por acaso uma “sobrevivente”. A pressa de fazer a arrumação jogava contra o medo de sentir saudade de um tempo que não sei qual foi. Uma curiosidade até certo ponto mórbida provocava a minha cabeça. Guardei-a para ler depois. Não resisti mais do que dez minutos.
Letra bonita, escrita calma, palavras nem sempre doces e apaixonadas. Era uma carta de amor e de rompimento. Apesar da falta de assinatura, identifiquei sua autora. Na verdade, não tinha assinatura por falta de espaço, mas vi a inicial do primeiro nome.
O misto de sentimentos ao reler a carta foi perturbador. Vontade de falar com ela, de esclarecer as dúvidas. Não queria fazer um pedido de desculpas nem uma tentativa de reatar algo tão antigo. Queria mesmo dizer que nunca senti dúvidas sobre o meu amor, mas que fui incompetente para demonstrar. Seria preciso uma daquelas conversas em que só um fala e vai embora, uma espécie de monólogo para apenas um espectador.
De certo modo, compreendi porque nunca tinha guardado nenhuma carta. A maioria continha indagações, medos e incertezas. Será que fui tão mal companheiro, namorado, marido, ou amante?
As minhas declarações eram, são e serão sempre claríssimas em relação aos meus sentimentos. Estaria aí o erro?
Meu amor esquece a realidade, o dia-a-dia, quando me declaro de forma direta e franca. Falo só o que sinto.
Amar é difícil como já escrevi antes. Comunicá-lo então nem se fala. Parece que beira o impossível para mim!
No final das contas, acho que elas sempre tiveram razão!
Também joguei fora a tal carta, assim como me desfiz de todos os amores.
Via: Blog Tudo Sobre Tudo
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