10 de jul. de 2016

[Texto]: Então — por Jander Gomez

Então, ela é mega inteligente. Nosso primeiro encontro foi num café. Ela disse que nunca havia tido um primeiro encontro num café, era sempre bar, cinema ou festa, e que ela tava cansada disso. Ela queria um café. Ela disse que eu parecia ser um desses caras que vai em cafés. 

Nós fomos ao meu café preferido, longe da minha casa e da dela, mas foi o que escolhemos. Ela me buscou aqui em casa, já que meu carro estava na revisão, e me olhou meio que entre os olhos, por entre eles, e disse "Desculpa a bagunça! E esse livro é pra você. Cê gosta, né? Mas vem, vem. Entra! Joga esse casaco pro banco de trás, pode jogar." Era um livro do Franz Kafka (ela sabia que eu adorava escrever). 

Passamos o tempo inteiro no café conversando sobre psicologia, sonhos e arte. Eu falei da minha depressão e de como eu vejo a vida e ela amou. Falamos então de política e de cinema, e só depois de tudo isso pedimos um café. E foi assim: 

"O quê que é bom?", ela me falou, se escondendo no cardápio. E daí eu disse "Ah, isso aqui, isso e isso... Mas eu gosto mesmo é de café gelado, nunca tomo quente" e ela, animada, "Eu também!!! E as pessoas acham isso SUPER estranho, mas eu amo". 

Depois de 3 horas e 2 cafés, fomos enfim pedir a comida. Daí descobrimos que eu gostava mais de salgados e ela de doces. Então ela disse "Perfeito, podemos ser aqueles casais que pedem os dois e dividem, sempre". Eu fui ao banheiro enquanto ela passava os olhos por todo o cardápio. Quando eu voltei, ela disse: "Cheesecake ou torta de limão?" e eu, de uma forma bem nada decidida, mas fingindo ser, "Hmmm... Cheesecake." Então ela sorriu. "Perfeito!! Sabe, eu já tinha escolhido esse, mas eu queria saber se você ia escolher o mesmo que eu. Parabéns, você passou no teste. Agora sua vez, vai, escolhe o salgado" e me entregou o cardápio. 

Eu li ele todo, umas duas vezes. Falei dos sanduíches e dos salgados mais comuns, e daí comentei "Poxa... Mas acho que vai ser esse aqui. Bolo de alho poró e parmesão". No mesmo segundo que eu disse isso ela ficou mega feliz e falou "Eu tinha olhado justamente pra esse!!! Parabéns, guerreiro, passou no segundo teste" e riu. Riu de um jeito tão gostoso, que eu devo ter sorrido sem querer, mas não sei. 

Enfim, num dos papos nós dois concluímos que estávamos cansados de sermos o norte das nossas relações. De sermos os guias sempre, o mais vivido do casal. 

Daí eu disse que tudo o que a gente precisava era de alguém que também soubesse guiar, que fosse também bússola e mapa. E que quebrasse a própria bússola e rasgasse o próprio mapa. Pra que um guiasse o outro, com o que se lembrava da vida, e que ficássemos revezando. Assim, em vez de irmos direto para um Norte, iríamos para o meu, e para o dela, e depois o meu, e depois o dela, e assim em vez de uma única direção, caminharíamos um mundo inteiro. 

Ah, ela também escreve poesia. Não com palavras, mas com a vida. E o nome dela é tão bonito que nenhum de vocês acreditaria. Só que isso é história pra outro dia.

Por: Jander Gomez
Via site: Jander Gomez

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