Você conhece algum leitor chato? Não? Então, cuidado, porque ele pode estar mais perto do que você pensa.
Se você está lendo este texto, é porque você ama leitura, livros e tudo mais — e isso é maravilhoso. No entanto, quando se fala de leitor, sempre surge aquele tipo que sempre parece estar com um monóculo e o ego pronto para criticar e destilar sua chatice. Leituras e preferências são gostos, claro, e cada um tem o seu. Discutir opções de leituras, principalmente quando são contrárias, pode ser algo enriquecedor. Por outro lado, há aquele tipo que sempre vai ser o chato, o mala, cheio de regras e ideias fechadas — o que é irônico, pois a leitura serve para abrir perspectivas, não sedimentá-las. Conhece alguém assim? Todos conhecemos, e creio que somos em alguns momentos aquela pessoa (acontece). Só que não dá para negar que há alguns indivíduos mais chatos que outros nesse quesito. Aqui vão umas dicas de como identificar o leitor chato — só não nos responsabilizamos se for você mesmo.
Gosto é gosto. Já foi dito acima: discutir gostos diferentes pode ser muito enriquecedor. Nada no mundo pode ser mais gratificante do que conhecer um autor(a) ou livro indicado por alguém ou citado naquela conversa boba. Só que nem sempre funciona assim. Há o leitor que ouve Jorge Amado e diz faltou “faltou Graciliano Ramos”, ouve Paulo Coelho e fala (grita na verdade) “faltou Machado de Assis”, ouve Tolstói e comenta (aos berros) “faltou Dostoiévski.” Nunca falta. As opções em literatura são muitas para faltar um autor ou outro. Ela é tão vasta que poderíamos passar as vinte e quatro horas diárias por décadas e não cobriríamos o que faltou. Quando dissemos “faltou (insira nome)”, não estamos olhando para a literatura ou algo bom, antes para o gosto pessoal.
✔ Complexo de gênio porque leu certos livros
Certa vez, na faculdade, junto a um punhado de colegas do curso de Letras, jogávamos conversa fora falando sobre romance policial. Cada um falava do que gostava, dava dicas, enfim, falava do que gostava aqui e desgostava acolá. Eis que surge uma pessoa e interrompe quem falava para dizer: “Você está errado. Se você tivesse lido X como eu li, saberia que (longa e tediosa explicação).” Não lembro qual livro ele tinha lido, só lembro que ele tinha uma visão de mundo chata, pois ele era o único a ter lido X. É claro que certos livros são mais impactantes e importantes que outros, porém nada te faz melhor por tê-los lido ou por ser um dos poucos a tê-lo feito. Isso apenas infla certos egos e faz a pessoa se sentir o que ela não é: especial.
✔ Falar mal de Paulo Coelho sem ter lido Paulo Coelho
Não se revolte. O que foi dito acima é não falar mal sem tê-lo lido, não amá-lo. No Brasil, como sempre, temos um complexo de inferioridade tremendo — e, na literatura, isso leva ao fenômeno Paulo Coelho. Fala-se mal dele por vários motivos: é mal escritor, é brasileiro, só o nosso país seria capaz de criar esse monstro etc. Pode até ser verdade. O interessante, porém, é que a maioria das pessoas que fala mal de Paulo Coelho nunca leu Paulo Coelho de fato, apenas segue na onda de xingá-lo. Eu já o li e não gostei, mesmo assim compreendo porque há quem goste e respeito. Acho que quem fala mal de Paulo Coelho sem lê-lo não passa de uma pessoa com um complexo parecido com a de dois itens acima. Todo mundo deveria lê-lo antes de julgá-lo, pois…
✔ Eu não vou perder meu tempo lendo isso
Não existe nada mais chato, principalmente num leitor, que a frase “eu não vou perder meu tempo lendo isso.” Há um ar de superioridade em quem a pronuncia. É como se este indivíduo fosse talhado para as grandes obras, só as mais elevadas, e não pudesse se desgastar com aquilo que não se faz grandioso. Tenho a impressão de que o leitor que diz isso tem a certeza de que as grandes obras foram escritas apenas para o seu deleite. Se algo me consola hoje é ver que a dita “alta literatura” está cada vez mais brincando com a “baixa literatura”. Os grandes escritores vivos ou recém falecidos devem ter perdido tempo lendo isso para a nossa sorte.
✔ Sou mais inteligente porque sou leitor
Clichês só são clichês por uma única razão: porque, em um nível óbvio, eles funcionam. O leitor que senta para conversar com os amigos e corrige os outros porque lê não passa de um deles. Ler não nos torna mais inteligentes, nos torna leitores. Refletir sobre o que se leu sim pode nos tornar mais compreensivos com os fatos — talvez inteligente seja uma palavra forte demais. Conheço pessoas que brandam que “o problema do mundo hoje é que ninguém lê.” Primeiro, se lê tanto quanto se lia no passado. Segundo, ler não nos torna mais inteligentes ou capazes. Muitos homens usaram essa ideia de iluminação (iluminismo, sacou?) para dizer por onde seguir e o quão bom seria o futuro. Bem, estamos no futuro deles e não vejo nada de maravilhoso, e você?
[Artigo via]: Homo Literatus
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